No auge da Beatlemania, com os Beatles fazendo todo o sucesso do mundo em sua primeira turnê nos Estados Unidos, o ator Marlon Brando que havia de certo modo começado toda aquela revolução jovem com o filme "O Selvagem", passava por inúmeros problemas em sua carreira. Seus filmes já não faziam mais sucesso no cinema e ele começava a ser visto com mais e mais desconfiança pelos produtores de Hollywood. Além de não representar maiores bilheterias, Brando era considerado um sujeito difícil de se lidar nas filmagens. Tudo isso estava nublando sua perspectiva de um dia voltar a se tornar um dos grandes nomes de Hollywood. De qualquer forma um dos mais poderosos produtores da indústria resolveu dar mais uma chance a Brando.
Logo no começo de 1964 Marlon Brando voltou a Hollywood para fazer mais um filme para a Twentieth Century Fox. O produtor seria o poderoso Darryl Zanuck, um sujeito que Brando particularmente detestava, mas que havia lhe oferecido um bom cachê para estrelar o filme "Morituri". Marlon então engoliu seu orgulho e resolveu trabalhar na película.
O fato é que ele estava desesperadamente precisando de dinheiro. Brando havia comprado uma ilha isolada no Pacífico Sul e tinha planos de construir um grande hotel no local. O filme também contaria no elenco com a presença de seu grande amigo pessoal, Wally Cox, que interpretaria um médico viciado em morfina. Anos depois, relembrando a época em que fez "Morituri", Brando afirmou: “Fiz esse filme por causa do dinheiro. Também aceitei trabalhar por causa de Wally Cox, o melhor amigo que tive em minha vida”. Talvez por ter entrado no projeto pelas razões erradas, talvez por não gostar muito do material, a questão é que assim que pisou no set de filmagens Brando começou a criar problemas com o diretor e o resto da equipe do filme.
O roteiro foi escrito pelo talentoso Daniel Taradash, o mesmo roteirista do aclamado “A Um Passo da Eternidade”. A história era bem interessante. Robert Gray (Marlon Brando) era um agente duplo do serviço de inteligência britânico. Durante a II Guerra Mundial ele se fazia passar por oficial nazista em um cargueiro em alto-mar que transportava uma preciosa carga para o esforço de guerra alemão. Seu objetivo era facilitar a captura do cargueiro pela marinha inglesa antes que ele chegasse em seu porto de descarga. Era em suma um agente de espionagem, um sabotador.
O roteiro original estava muito bem escrito, mas Brando detestou o que leu. Passou por cima do texto original e disse que iria fazer modificações. Ignorando completamente o livro que deu origem ao roteiro, Brando saiu cortando trechos inteiros da estória ao seu bel prazer. Na verdade, o ator destruiu o roteiro original e passou a reescrever tudo no meio das filmagens, um ato temerário uma vez que ele nunca fora roteirista na vida. Sua intromissão foi tão grande que em pouco tempo ele estava cortando personagens inteiros da trama. Mesmo agindo assim, de forma completamente arbitrária, não foi impedido pois afinal de contas ainda era considerado um grande astro do cinema americano.
O resultado final se mostrou desastroso. O roteiro ficou completamente truncado, mal desenvolvido e com uma trama até mesmo confusa. O filme acabou indo muito mal nas bilheterias, se tornando mais um grande fracasso comercial do ator nessa fase em baixa de sua carreira, piorando ainda mais seu prestígio dentro dos estúdios de cinema. Brando, porém, não pareceu se importar muito com isso, pois assim que as filmagens acabaram foi embora para sua ilha tropical nos mares do sul.
Depois confidenciou a pessoas próximas que até tinha gostado do fato do filme não ter tido sucesso, pois o prejuízo cairia no colo de Zanuck. Brando esqueceu, porém, que um filme malsucedido não atingia apenas os produtores, mas os atores também. Ele seria o maior prejudicado no final das contas. Por essa época ele começou a ser descartado das escolhas de elenco por ser um ator muito complicado de se lidar no set. Também deixou de ser visto como um astro campeão de bilheteria. Era o começo da pior fase de sua carreira.
Pablo Aluísio.