sábado, 18 de agosto de 2012

Filmografia Comentada: Steve McQueen

Steve McQueen foi um dos atores mais populares da década de 60. Estreiou no cinema em "Marcado Pela Sarjeta" em uma participação não creditada. Seu tipo não se enquadrava nos galãs românticos da época e por isso ele aos poucos foi se especializando em filmes de muita ação e emoção, criando seu próprio estilo. Sua sorte mudou ao estrelar um filme de orçamento modesto da companhia Mirisch, especializada em produções B. O western "Sete Homens e Um Destino" se tornou um grande sucesso de bilheteria e assim Steve McQueen se tornou um astro de primeira grandeza. Os sucessos se sucederam, "Fugindo do Inferno", "Bullit". "O Canhoneiro do Yang-,Tsé", "Crown, O Magnífico", "Papillon", "O Inferno na Torre" e tantos outros. McQueen formou seu próprio público e estilo se tornando rapidamente um campeão absoluto de bilheterias. Louco por carros e corridas McQueen procurava sempre fazer suas próprias cenas de perseguição nos filmes. Seu último filme, "Caçador Implacável" mostrava que apesar dos anos McQueen continuava fiel ao tipo de produção que lhe trouxe fama e fortuna. O ator morreu em 1980, aos 50 anos, deixando toda uma legião de fãs órfãos de seu talento e carisma.

Papillon
Henri 'Papillon' Charriere (Steve McQueen) é condenado por assassinar um gigolô e é enviado para a terrível penintenciária de Saint Laurent na Guiana Francesa. A prisão era conhecida por seu regime de trabalhos forçados em pântanos e pela rígida disciplina interna. Na viagem para o local acaba conhecendo Louis Dega (Dustin Hoffman) um falsificador de bônus de guerra que acumulou grande riqueza com sua atividade ilegal. Papillon lhe oferece proteção em relação a outros prisioneiros que já sabem que Dega tem uma verdadeira fortuna pessoal e certamente vão querer tirar algum proveito disso. O que começa como um simples acordo de proteção acaba ao longo dos anos se tornando uma sólida amizade pessoal entre ambos. "Papillon" é um filme visceral. O roteiro foi baseado no relato autobiográfico de Henri Charrière que foi mandado para a Ilha do Diabo na década de 1930. Seu teor cru e realista até hoje impressiona. Não poderia ser diferente. Aqui temos um dos maiores roteiristas da história de Hollywood, Dalton Trumbo, o mesmo de Spartacus que foi perseguido durante o macartismo e que foi trazido de volta do ostracismo por Kirk Douglas. Seu texto é brilhante, um grande estudo e denúncia sobre as péssimas condições que existiam no local. Um claro atentado aos direitos mais básicos dos apenados.

Para se ter uma pequena idéia da rigidez do sistema prisional basta citar o fato de que era prática constante o envio de prisioneiros para a solitária durante longos anos. O próprio Papillon passou cinco anos encarcerado no chamado "buraco" por ter agredido um guarda da prisão que estava espancando seu amigo Dega. Isolado, sem luz e com comida racionada ele aos poucos vai perdendo o senso de realidade chegando ao ponto de saciar sua fome comendo pequenos insetos que infestam sua cela como baratas e centopeias. Essas cenas passadas na solitária aliás são as melhores de todo o filme, mostrando de forma inequívoca o grande talento de Steve McQueen, um ator que sempre achei muito subestimado pela crítica. Outro ponto muito marcante é a obstinação de seu personagem que nunca se rende e está sempre em busca de sua liberdade. Sua frase "Estou vivo desgraçados!" é muito significativa nesse ponto. Papillon é uma pessoa que não se rende, que não desiste. No fundo o filme é uma crônica sobre a perseverança humana que a despeito de todas as adversidades jamais se dobra ao que o destino parece lhe impor. Um grande momento do cinema americano da década de 70 e uma obra essencial para todos os cinéfilos.

Sete Homens e Um Destino
Moradores de um pacato vilarejo mexicano pedem ajuda a um grupo de pistoleiros liderados por Chris (Yul Brynner) e Vin (Steve McQueen) para que os protejam do terrível bando de bandidos e assassinos do pistoleiro Calvera (Eli Wallach). Refilmagem americana do filme "Os Sete Samurais" de Akira Kurosawa. Uma das grandes idéias dos roteiristas foi transpor a estória para o velho oeste, pois essa é a verdadeira mitologia americana. Saem os samurais e entram os pistoleiros e cowboys do filme. Nada mais adequado. Mas não foi apenas por essa adaptação que a produção se tornou um clássico. Provavelmente esse seja o western com a mais lembrada e famosa música tema da história do cinema. Muito evocativa e tocada várias vezes ao longo do filme em diversas versões diferentes logo fica claro porque se tornou um marco no estilo. Elmer Bernstein era realmente um grande compositor como bem demonstrado aqui. Basta a música tocar para o espectador entrar imediatamente no clima do gênero western.

Outro ponto muito forte de "The Magnificent Seven" é seu elenco acima da média, liderado pelos carismas de Yul Brynner e Steve McQueen, ambos estrelas em ascensão em Hollywood na época. Os sete pistoleiros contratados para defender a pequena vila são variações do velho mito do cavalheiro solitário e errante (como bem resume uma cena em que eles discutem sobre os prós e contras da vida que levam). O elenco de apoio é excepcionalmente bom, com destaque para Charles Bronson (ainda em sua fase de coadjuvante), Robert Vaughn (que iria virar astro da TV anos depois) e James Coburn (um dos atores que melhor personificou pistoleiros em filmes de faroeste). Produzido pela Mirisch cia, a produção não é muito rica (essa empresa era especializada em fitas B que depois eram distribuídas pelos grandes estúdios como Universal e MGM) mas esse pequeno detalhe não compromete o filme em nenhum momento. Já a direção do veterano John Sturges é eficiente (embora um corte na duração final cairia bem). De qualquer forma não há como negar que para quem gosta de western esse é sem dúvida um filme obrigatório.

24 Horas de Le Mans
Assisti hoje esse curioso filme da filmografia do Steve McQueen. O fato é que ele era louco por corridas e carros velozes, assim quando estava no auge de seu sucesso resolveu bancar um projeto pessoal: realizar um filme durante as 24 horas de Le Mans (uma das corridas mais famosas da Europa). Embora tenha sido aconselhado a não estrelar o filme Steve bateu o pé e levou uma enorme equipe de Hollywood para filmar o grande evento esportivo. O problema é que em sua ansiedade de fazer o filme McQueen esqueceu de que todo filme tem que ter um roteiro e não basta apenas filmar carros à toda velocidade.

Aí é que está todo o problema de Le Mans: ele não tem roteiro! Não é que o roteiro do filme seja ruim, nada disso, ele simplesmente não existe! Isso mesmo. Tudo se passa nas próprias 24 horas de Le Mans. Tudo o que se vê durante o filme inteiro é a própria corrida e nada mais. É quase um documentário. Para não dizer que McQueen não interpreta nada ele tem duas cenas onde troca diálogos rápidos com outros personagens (que nem mesmo possuem nomes!). Tecnicamente a verdade seja dita: o filme é muito bem editado e tem ótimas sequências de pista... mas também só tem isso. Enfim, o resultado de tudo isso é que o filme foi um tremendo fracasso de bilheteria e o McQueen perdeu uma verdadeira fortuna com isso. Bem feito, só assim ele nunca mais estrelaria um filme sem roteiro.

Fugindo do Inferno
Um grupo de prisioneiros ingleses e americanos tenta de todas as formas fugir de um campo de prisão alemão durante a II Guerra Mundial. O local foi especialmente construído pelo Terceiro Reich para abrigar os maiores mestres em fugas sob custódia no conflito. Esse é certamente um dos filmes mais lembrados quando se trata de fitas sobre fugas espetaculares. Além disso é considerado uma das produções mais populares estreladas pelo carismático Steve McQueen, na época no auge de sua popularidade como astro de filmes de ação. Embora pouca gente perceba isso o fato é que "The Great Escape" tem grande "parentesco" com outro clássico estrelado por McQueen, "Sete Homens e Um Destino". Ambos foram dirigidos pelo mesmo cineasta e conta com praticamente a mesma equipe no mesmo estúdio. Se compararmos os dois porém veremos que "Fugindo do Inferno" conta com uma produção bem acima do anterior, fruto é óbvio do grande sucesso do famoso western. Por trás das câmeras se sobressai o trabalho do excelente (e subestimado) John Sturges, que aqui entrega uma pequena obra prima dos filmes de guerra.

O roteiro foi baseado no livro de memórias de um participante da fuga (que foi real e aconteceu em 1944, já na fase final da II Guerra Mundial). Claro que o filme toma enormes liberdades com o material original, o livro de Paul Brickhill. O túnel que vemos em cena certamente é irreal, tal o seu grau de sofisticação. Obviamente que a escavação real mais parecia com um mero buraco do que qualquer outra coisa, muito longe do que vemos na tela. Aliás essa falta de veracidade seria satirizada anos depois na comédia "Top Secret" de 1984. O fato é que "Fugindo do Inferno" é acima de tudo uma obra de entretenimento e não esconde isso, principalmente em seus letreiros iniciais quando deixa claro que embora baseado em história real houve várias mudanças nos personagens, locais e tempo em que aconteceram os fatos reais. Longo em sua duração o filme não cansa o espectador pois a trama é muito bem amarrada e mantém o interesse. O roteiro também causa surpresa por ter basicamente dois finais, o primeiro na fuga e o segundo nos acontecimentos que ocorreram após a mesma ter sido levado a cabo. De qualquer forma "Fugindo do Inferno" é certamente um dos melhores filmes de guerra já feitos. Movimentado, bem escrito e com muito suspense e emoção. Se não conhece ainda não deixe de assistir.

O Inferno é Para os Heróis
Steve McQueen foi o grande nome do cinema de ação dos anos 60. Seus filmes iam direto ao assunto e não havia espaço para sutilezas ou abobrinhas dramáticas. Quem comprava o ingresso para ver um filme seu já sabia o que iria encontrar. Falando de forma crua o ator fazia filmes "pra macho", ou seja, muita ação, porrada e mortes. E é justamente isso que encontramos em "O Inferno é para os heróis". No roteiro não há lugar para melodramas, pelo contrário, o que vemos é um autêntico filme de guerra, com muita ação da primeira à última cena. Os personagens do batalhão são rapidamente apresentados e todos logo partem para o front onde tropas alemãs os esperam.

O elenco é muito interessante. Além de McQueen fazendo seu estilo caladão e durão temos ainda Bobby Darin, o cantor, fazendo um recruta mais preocupado em juntar cacarecos do que lutar e Nick Adams fazendo um refugiado polaco tentando ganhar uma viagem para os EUA com o objetivo de fugir da guerra e tentar um novo recomeço. Esse ator inclusive hoje é mais lembrado por suas amizades (foi grande amigo de James Dean e Elvis Presley) do que por sua carreira propriamente dita. E para terminar o elenco ainda traz o futuro durão dos filmes de western, James Coburn, interpretando um soldado nerd (vejam só que ironia). É isso, o filme é realmente um autêntico "war movie" com direito inclusive a uma muito bem feita cena de destruição de uma casamata alemã (devidamente copiada por Spielberg em Soldado Ryan). Coloque o capacete e divirta-se.

Pablo Aluísio.

2 comentários:

  1. Pablo:

    Por favor fale do Crown, que dizem ser o personagem preferido do Steve.

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  2. Crown será objeto de resenha em breve Serge. Aguarde.

    Pablo Aluísio.

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