quinta-feira, 6 de outubro de 2011

The Doors - The Doors

The Doors (1967) - Gravado em quatro canais no mês de agosto de 1966, no Sunset Sound Studios #1 (em Hollywood, CA), lançado oficialmente nos EUA no dia 4 de janeiro de 1967 e produzido por Paul A. Rothchil. Com o estouro de Light My Fire em todo os EUA, o produtor Paul Rothchild, um dos mais conceituados profissionais da Elektra Records, costumava dizer que criou um sucesso em apenas uma semana. E foi isso mesmo. Assim que assinaram com a gravadora, no final de 66, os Doors logo entraram em estúdio e em meros seis dias (com um fim de semana de intervalo) gravaram seu disco de estreia. As músicas escolhidas já faziam parte do repertório que a banda vinha tocando em bares na Califórnia durante um ano inteiro, alternando-se entre composições de autoria própria (apesar de serem todas compostas por Morrison e Krieger, a banda inteira levava o crédito no encarte) e covers (Alabama Song, de Kurt Weill e Bertold Brecht, e Back Door Man, de Willie Dixon).

A sonoridade pode ser descrita como um blues urbano e sombrio, misturando influências da música negra e de elementos totalmente novos no mundo da música pop. Sucesso de público (transformou-se logo em disco de ouro) e muito elogiado pela crítica, o álbum se tornou um dos maiores clássicos da história do rock e colocou Jim Morrison e os Doors entre os maiores ícones pop do século. Este é o primeiro disco da carreira dos Doors. O normal é que todo disco de estreia de qualquer grupo seja pouco ousado, em que os músicos ainda estejam procurando seu próprio caminho, em suma o normal é que o disco de lançamento de qualquer grupo iniciante seja produto de uma fase de experimentação, de inexperiência. Esqueça isso em relação aos Doors. Que banda de Rock coloca uma música como "The End" logo de cara em seu debut musical? Até os Beatles levaram um tempo para deixar a fase "menudos dos anos 60". Sö evoluíram depois, quando deixaram as "musiquinhas idiotas de amor" (como o próprio Lennon se referia, quando falava da primeira fase do conjunto).

Com os Doors isso não aconteceu, eles já começaram detonando meio mundo, colocando por terra qualquer conformismo ou lugar comum melódico. O disco é uma tijolada no cenário rock da época. Um crítico disse que "Gosto dos demais grupos porque entendo o que eles dizem, com os Doors isso não acontece, quem pode entender o que Jim está querendo transmitir?" Pois é, sem dúvida Jim e banda era por demais avançado para a época, e o mais importante eles colocaram as cabecinhas ocas das adolescentes que gritavam pelos Beatles para funcionar! O negócio de Jim era esse: "Pense". Eles surgiram no momento em que os Estados Unidos e o mundo já haviam perdido a inocência. A guerra do Vietnã estava no ar e os Doors eram ouvidos no sudeste asiático pelas tropas americanas aquarteladas no fim do mundo. "Os Doors foram a trilha sonora do Vietnã" disse depois o diretor Oliver Stone. Talvez por isso a guerra tenha ido pelo ralo.

Os Doors fazem pensar, o que definitivamente está fora de cogitação para os militares, que querem que seus soldados sejam simples máquinas idiotas de matar. Então o grupo veio e rompeu com tudo, inclusive com a pasmaceira reinante. Em suma, os Doors foram definitivamente (desculpe a referência por demais óbvia) aqueles que arrombaram as portas da caretice e do marasmo musical do final dos anos 60, que trouxeram novos valores ao asséptico mundo WASP dos EUA. Os Doors cresceram rápido, até porque eles não teriam tempo! Em apenas cinco anos o grupo jogou para o alto qualquer mesmice musical. Fico imaginando em que grupo eles teriam se transformado se tivessem pelo menos mais 10 anos de carreira pela frente. Teriam tirado os Beatles do trono de "banda mais importante da história do rock" ou teriam se tornados "vovôs ridículos posando de adolescentes imaturos" como os Rolling Stones? Esqueça. Filosofia é para Jim Morrison. Não cometerei nenhuma heresia em um site feito para homenagear "A mais inteligente banda de rock da história", o que já é um respeitável título.

 
Singles nas Lojas:

Break On Through (To The Other Side) / End Of The Night: Misture filosofia francesa, pitadas de existencialismo, culto à morte, alucinações psicodélicas e o que você tem? Ora, o primeiro single dos Doors, um dos mais revolucionários e transgressores da história do rock americano. Você só tem a noção exata da singularidade deste single se ouvir outras bandas e artistas americanos da época. Tente comparar essa música com The Mamas and The Papas, por exemplo. São dois mundos completamente diferentes, Jim e os caras da banda parecem ter chegado de Marte! A distância da essência dos Doors e de outros grupos é abissal. Não dá para comparar. Por isso houve tanto rebuliço nos States. Jim literalmente rompeu com o cenário musical da época e fez algo totalmente novo. Por isso tentar classificar e enquadrar o grupo em alguma tendência é bobagem, simplesmente são únicos, sem ninguém parecido por perto. Jim foi nessas canções o que John Lennon gostaria de ter sido, se tivesse uma formação educacional mais sólida, porque ninguém mistura tantas coisas diferentes e relevantes em um só caldo e se sai bem. Tem que ter embasamento intelectual e isso o rei lagarto tinha de sobra. As músicas? Nem vou comentar, tire suas próprias conclusões. Esse aliás sempre foi o recado por trás das músicas dos Doors: "Pense por si mesmo".

Light My Fire / The Crystal Ship: Um dos grandes sucessos da carreira dos Doors, senão o maior. Primeiro houve muita surpresa por parte das rádios americanas pela duração da música. Nos anos 60 uma canção tinha que ter no máximo três minutos e aí chega os Doors e chutam o balde, lançando uma que durava a eternidade (mais de 7 minutos!). Como tocar um troço desses? Mas não teve jeito, eles tiveram que se curvar e colocar a versão completa nos dials. O produtor do grupo ainda fez uma versão menor (abominada por Jim) para que as estações mais comerciais (e mais idiotas) pudessem tocar o sucesso dos Doors. Depois o sacrilégio: Atrás de uma grana fácil os três (fora Jim) venderam os direitos de "Light My Fire" para tocar como jingle no lançamento de um novo carro, o Buick. Jim, é claro, ficou puto da vida e detonou uma TV nos estúdios quando soube! (Essa cena está presente no filme de Oliver Stone). O conjunto estava se tornando justamente aquilo que Jim mais odiava: mero produto descartável da indústria automobilística. Que droga! Bad Trip!

Pablo Aluísio

Um comentário:

  1. Avaliação:
    Produção: ★★★★
    Arranjos: ★★★★
    Letras: ★★★★
    Direção de Arte: ★★★
    Cotação Geral: ★★★★
    Nota Geral: 8.9

    Cotações:
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